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AS ROÇAS DE SÃO TOMÉ E O CAFÉ

19/02/14

A investigação, agora publicada, de Rodrigo Rebelo de Andrade e Duarte Pape, talvez seja a mais interessante novidade editorial dentro da esfera da arquitectura.

 

O que mais surpreende nesta aposta é a forma como o trabalho de investigação foi “manipulado”, se por um lado a editora não deixou de transformar o estudo dos dois arquitectos num valioso instrumento de trabalho para estudantes e arquitectos, por outro proporciona aos amantes de África e da história colonial portuguesa um binóculo sobre o arquipélago. Esta abordagem agora publicada, assume uma rotura com o universo de publicações antes produzido sobre a arquitectura luso-colonial africana quase exclusivo a Angola e Moçambique. Territórios como Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe apesar das incursões de Ana Vaz Milheiro e Eduardo Costa Dias, ainda estão por descobrir. Este documento mais do que um inventário, tal como assumem os autores no seu sexto capitulo, é fundamentalmente um enquadramento do café no arquipélago e em toda a orgânica tipológica e programática neste contexto social gerado em torno desta “especiaria”.

 

As roças no seu edificado representam uma época auspiciosa de um legado desenvolvido com diversidade formal e de escolha acertada dos materiais no desenvolvimento da construção. Para além dos 122 exemplos identificados, o enquadramento geográfico explanado permite uma leitura num perfil historicista mais adequado às relações sociais e económicas ali desenvolvidas. Perante um património pouco preservado e sem qualquer cuidado governamental, os autores perspectivam o caminho a travar, apostando fundamentalmente em processos de recuperação e preservação da riqueza patrimonial encontrada. Publicação de leitura fácil e de valor incomensurável não só pela descoberta de tão “distante” e valioso património como pela consubstanciação de um extraordinário legado fotográfico do arquitecto e fotógrafo Francisco Nogueira.

 

Assumo paralelamente a mesma perspectiva de José Manuel Fernandes no seu prefácio, onde menciona que esta obra representa o estudo editado “mais aprofundado, inovador, esclarecido e polifacetado” sobre o tema das roças em São Tomé e Príncipe. Para o leitor-arquitecto fica a faltar o registo técnico detalhado ou levantamento circunstancial ajustado às suas expectativas. A estrutura e beleza das “Roças de São Tomé e Princípe”, permite-nos a espera por mais um degrau na investigação, posteriormente com a coordenação de José Manuel Fernandes neste belíssimo trabalho conjunto de três jovens arquitectos da geração que agora emigra.

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