top of page

OFFICE MATERIA

LIVRO: AS ROÇAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

03/12/13

As Roças de São Tomé e Príncipe, estudo e investigação de Rodrigo Rebelo de Andrade e Duarte Pape, talvez seja neste final de ano, a mais interessante novidade editorial nacional dentro da esfera da arquitectura. O que mais surpreende nesta aposta da Tinta da China é a forma como a investigação foi “manipulada”, se por um lado a editora não deixou de transformar o estudo dos dois talentosos investigadores e arquitectos num valioso instrumento de estudo para estudantes e arquitectos, por outro proporcionou ao leitor um binóculo sobre o arquipélago para amantes de África e da história colonial portuguesa. Perante esta publicação percebe-se que procura ocupar um espaço que outras editoras especializadas, vão descurando e trabalhando com pouca convicção e sentido. Em 2010 com “Moderno Tropical – Arquitectura em Angolae Moçambique, 1948-1975” de Ana Magalhães e Inês Gonçalves reconhecia-se um atrevimento arriscado, confrontados com esta obra, somos a anuir determinação e escolha acertada, iniciando um processo interno, de construção de uma “estante” editorial que versa a arquitectura.

 

O trabalho apresentado por Rodrigo Rebelo de Andrade e Duarte Pape vem ao encontro de uma necessidade latente nas publicações de investigação sobre arquitectura colonial, onde figuras como José Manuel Fernandes em “Geração Africana”, de Livros Horizonte, “África - Arquitectura e Urbanismo de Matriz Portuguesa” e “Arquitectura e Urbanismo na África” das edições Caleidoscópio; Ana Vaz Milheiro em “Guiné-Bissau, 2011” da Circo de Ideias e “Os Trópicos sem Le Corbusier” da Relógio D´Água; ou Miguel Santiago num registo mais monográfico sobre “Pancho Guedes – Metamorfoses Espaciais” da Caleidoscópio, têm vindo a promover, entre outros, a noção de que a arquitectura de raiz portuguesa apesar de amplo e merecido estudo ainda é por nós, desconhecida. Esta abordagem agora publicada assume uma rotura com o universo de publicações antes produzido sobre a arquitectura luso-colonial africana, quase exclusivo ao território Angolano e Moçambicano. Territórios como Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe estão por descobrir apesar das incursões de Ana Vaz Milheiro e Eduardo Costa Dias essencialmente sobre o séc. XX guineense e cabo-verdiano e sobre o interessante e importante trabalho desenvolvido pelos gabinetes de urbanização colonial entre 1944 e 1974.

Mais do que um inventário, tal como assumem os autores no sexto capitulo, é fundamentalmente um enquadramento do café no arquipélago e toda a orgânica tipológica e programática por detrás de um contexto social gerado em torno desta cultura. As roças no seu edificado representam uma época auspiciosa de um legado desenvolvido com diversidade formal e de escolha acertada dos materiais no desenvolvimento da construção. Para além dos 122 exemplos identificados, o enquadramento geográfico explanado permite uma leitura num perfil historicista mais adequado às relações sociais e económicas ali desenvolvidas. Perante um património pouco preservado e sem qualquer cuidado governamental, mais à frente, os autores perspectivam o caminho a travar, apostando fundamentalmente em processos de recuperação e preservação da riqueza patrimonial encontrada.

 

Publicação de leitura fácil e de valor incomensurável não só pela descoberta de tão “distante” e valioso património como pela consubstanciação de um extraordinário legado fotográfico do jovem arquitecto e fotografo Francisco Nogueira que permite ao leitor viajar sem comprar bilhete. Assumindo a mesma perspectiva de José Manuel Fernandes no seu prefácio, esta obra representa o estudo editado “mais aprofundado, inovador, esclarecido e polifacetado” sobre o tema das roças em São Tomé e Príncipe. Para o leitor arquitecto fica a faltar o registo técnico detalhado ou levantamento circunstancial ajustado às suas expectativas, contudo a estrutura e beleza da obra que Tinta da China nos presenteia, permite-nos a espera por mais um degrau na investigação, posteriormente com a coordenação de José Manuel Fernandes neste belíssimo trabalho conjunto de três jovens arquitectos da geração que agora emigra.

 

1.ª edição: Outubro de 2013

 

n.º de páginas: 240

 

isbn: 978‑989‑671‑175‑7

03_12_13
bottom of page