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NÓS, OS DA ARQUITECTURA SOCIAL

27/04/14

Por estes dias, o panorama social e económico oferece uma difícil realidade para todos aqueles que vivem e sobrevivem da arquitectura, como de pão para a boca. Muito se fala da emigração obrigatória para quem ainda procura continuar a viver das plantas e das maquetas ou da opção na senda de outros caminhos, diametralmente opostos, para os desanimados com a realidade da própria profissão. As dificuldades na construção, com a consequente diminuição da encomenda, permitiu deixar o elevado número de profissionais no território nacional desalojados de trabalho e perspectivas. Perante este cenário, acresce mais um factor descuidado pela opinião pública e mais propriamente pela própria classe: a dificuldade em perceber no seio dos arquitectos que os mesmos, perante a ambição da autoria, não conseguiram entender que era na associação e na criação de grandes escritórios de associados que estava o caminho para o sucesso. Por outro lado, o ensino das últimas décadas, alicerçado por professores na sua maioria com escritórios próprios, estruturou profundamente o pensamento dos alunos nesse anseio da arquitectura de autor.

A dificuldade na associação não se encontra nesta nova geração que face às dificuldades teve de reconhecer e enveredar por este caminho. Dos arquitectos não emigrantes sobrevivem por cá: os “agarrados” ao ensino, os com ancoras à encomenda estrangeira em particular das Áfricas, os que em boa hora se associaram e criaram forças suplementares ou os que se reinventaram dentro do universo da arquitectura.

Quando se fala em reinventar, não passa obrigatoriamente por encontrar novos caminhos fora da profissão. Sou crente que a nossa formação nos apetrechou de uma série de ferramentas que nos permitem descobrir fórmulas para desenvolver trabalho fora do espaço do escritório em áreas como a cenografia, curadoria, gestão cultural, desenvolvimento de projectos expositivos, pedagogia, divulgação cultural, ilustração, organização de eventos, elaboração de artes aplicadas, de certificação energética, avaliação imobiliária, consultoria, gestão de obra, topografia, entre outras… ou até mesmo o desenvolvimento de projectos sociais das mais diversas naturezas. A exposição Tanto Mar, actualmente patente no Centro Cultural de Belém, revela na sua génese uma panóplia de intervenções em todo o mundo com forte carácter social. Algumas das intervenções são desenvolvidas por escritórios sediados em território nacional, outras providas das dificuldades de quem teve de emigrar para se sustentar, contudo encontrou nessa nova realidade espaço e oportunidade para desenvolver projectos (não obrigatoriamente de arquitectura) comungando com as comunidades locais um futuro mais risonho.  

Temos de encarar este futuro incerto numa perspectiva aberta, sem esperar que uma Ordem, muito pouco musculada, possa ser auxílio ou que governantes possam instruir alavancas no universo da construção. Perante este cenário, se ao leitor enquanto arquitecto este discurso soar a ridículo e desprovido de contexto ou de senso na realidade, carpe diem!

27_04_14
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